03 outubro 2009

ACUSADOR DE DEPUTADO DA MOTOSSERRA RELATA MEDO DE MORRER

Portal Terra
BRASILÍA - Antigo motorista do ex-deputado federal Hildebrando Paschoal, o sul-africano Emmanuel Opok Sphiel, 48 anos, escapou da pobreza do lugar onde nasceu. Mas a violência que encontrou aqui, se não difere da do continente africano, o assustou mais, a ponto de ele preferir tentar a sorte no Timor Leste. Emmanuel diz que vive hoje com medo de morrer vítima dos capangas do autor do crime da motosserra - como ficou conhecido o assassinato com requintes de crueldade do qual é acusado o ex-parlamentar.
O homem que por quatro anos foi chofer do político chegou à capital pernambucana na tentativa de embarcar como clandestino em qualquer navio que saísse do porto do Recife. Não conseguiu e buscou abrigo em uma ONG que trabalha com jovens viciados.
Desde que resolveu testemunhar contra o ex-chefe, o sul-africano já sofreu três atentados. Num deles, teve a casa metralhada. Crime que ele credita à ainda ativa quadrilha do ex-deputado. "Tudo que os vizinhos conseguiram dizer é que eles chegaram à noite, por volta das duas horas da manhã. Todo mundo ouviu os tiros e viu os carros pretos indo embora, e ninguém conseguiu identificar quem era."
Casado com uma brasileira e pai de três filhos, Emmanuel e família vivem escondidos. "No Acre não se pode prestar queixa porque não se pode confiar na polícia. Em polícia nenhuma, nem civil, nem militar. Hoje não se sabe quem está contra ou a favor dele (Hildebrando)."
O sul-africano diz que só quer deixar Brasil e recomeçar a vida no Timor Leste. Para ele, a justiça dificilmente será feita neste caso. "Existem vários membros que não foram acusados por crimes por não haver provas na Procuradoria Geral da República. Nem as Polícias Civil e Federal conseguiram adquirir provas e essas pessoas passaram ilesas e, hoje, ainda ocupam cargos de deputado estadual, advogados, juízes da corregedoria carcerária, pessoas responsáveis pela Vara das Execuções Criminais. Existem até ex-juízes que estão gozando de aposentadorias com o dinheiro que ganharam quando Hildebrando Paschoal comandava Rio Branco. Ele mandava mais do que o próprio governador do Estado", finalizou o sul-africano.
Crueldade cotidiana
Segundo Emmanuel, o mecânico Agilson Firmino dos Santos, o Baiano, não foi a única vítima da gangue de Hildebrando. Baiano teve braços, pernas e pênis cortados com uma motosserra, além dos olhos furados e um prego cravado na testa ¿ tudo isso antes de morrer. O crime teria acontecido porque a vítima foi cúmplice do assassinato do irmão de Hildebrando, Itamar Pascoal.
"Todos os crimes feitos pelo esquadrão da morte do Acre foram com requintes de crueldade, inclusive sacrificando mulheres crianças. Eles pegavam crianças como reféns para que as pessoas se entregassem. Esse tipo de crime é marca registrada do Acre há muito tempo."
O sul-africano afirma que as mortes diárias no Estado são reflexo de um planejamento estratégico da quadrilha. "Todo o dia há notícias no jornal de corpos atirados na beira do rio ou estrada. Todo dia tem índice de três ou quatro mortes e você sabe que, no dia anterior, tinha mais três amarrados para morrer no dia seguinte."
Emmanuel cita casos de queima de arquivo como o que aconteceu com policial Walter Ayala, assassinado em 1997. "Uma das últimas mortes, antes do próprio julgamento do Hildebrando, foi a do Ayala. Ele denunciava o grupo há vários anos e, como ele tinha provas, mataram-no dentro de um ônibus no centro da cidade. Por enquanto, ele (Hildebrando) não foi responsabilizado pela metade das pessoas que ele matou."

Nenhum comentário: